Lista das 327 teses que constam da obra “Filosofia Concreta” de Mário Ferreira dos Santos.
- Alguma coisa há, e o nada absoluto não há.
- O nada absoluto, por ser impossível, nada pode.
- Prova-se mostrando e não só demonstrando.
- A demonstração exige o termo médio; a monstração, entretanto, não o exige.
- Há proposições não deduzidas, inteligíveis por si de per si evidentes (axiomas).
- Pode-se construir a filosofia com juízos universalmente válidos.
- O nada absoluto é a contradição de alguma coisa há.
- O que há – é; é ser. O que não há é não-ser.
- A proposição “alguma coisa há” é notada suficientemente por si mesma.
- “Alguma coisa há” não é apenas um ente de razão, mas um ente real-real.
- Alguma coisa existe.
- O nada absoluto nada pode produzir.
- Alguma coisa sempre houve, sempre foi, sempre existiu.
- Alguma coisa que sempre houve, que sempre foi, que sempre existiu, ainda há, é e existe.
- O alguma coisa que sempre houve, sempre foi e sempre existiu, não teve princípio. Sempre foi e sempre é.
- Entre ser e nada não há meio-termo.
- O Ser não pode ter surgido subitamente, pois sempre houve alguma coisa.
- O que tem prioridade é alguma coisa.
- O que tem prioridade é afirmativo.
- Se o nada absoluto tivesse prioridade não seria nada absoluto, pois seria afirmativo.
- A dúvida humana afirma.
- A dúvida absoluta é impossível.
- A afirmação tem de preceder necessariamente à negação.
- A negação afirma a afirmação.
- A negação absoluta seria, por sua vez, afirmação de algo.
- A negação é sempre afirmativa, seja de que modo for.
- É absolutamente falsa a predicação da ausência total e absoluta.
- É absolutamente verdadeira a predicação de uma presença.
- A verdade ontológica prescinde do rigor psicológico.
- O Ser, que sempre foi e sempre é, é plenitude absoluta de ser.
- O Ser é, pelo menos, de certo modo, absoluto e infinito.
- O não-ser relativo é o apontar de uma ausência de perfeições determinadas.
- A afirmação precede ontologicamente à negação.
- O Ser tem prioridade à relação.
- Não se podem predicar propriedades ao não-ser absoluto.
- O não-ser relativo (nada relativo) não tem propriedades. A ausência de propriedade é, no entanto, relativa e não absoluta.
- O nada-relativo tem sempre positividade.
- Ante o ser, o não-ser relativo não o contradiz, porque não nega absolutamente ser ao ser. O não-ser relativo é apenas a ausência de uma perfeição, e não a ausência absolutamente total do ser.
- Entre o não-ser relativo e o não-ser absoluto, há a diferença que o primeiro é positivo, enquanto a postulação do segundo nega toda e qualquer positividade.
- O ser absoluto é apenas Um e só pode ser Um.
- Se existisse outro ser primordial, ambos seriam deficientes e o ser seria deficiente.
- Ao Ser absoluto, por ser infinito, repugna a admissão de outro ser infinito, ou de outro ser qualquer independente dele.
- Ao ser absoluto não lhe falta coisa alguma para ser.
- O nada absoluto é homogeneamente nada.
- O Ser é o poder infinito e absoluto de ser tudo que pode ser.
- Além da impossibilidade do nada absoluto total, há ainda a impossibilidade de um nada absoluto parcial.
- É impossível que o ser esteja isolado pelo nada.
- O Ser absoluto é absolutamente simples.
- O Ser absoluto é suficiente e proficiente.
- O Ser absoluto é primordialmente absoluto. É imprincipiado, ingenerado, e absolutamente o primeiro.
- A negação, considerada em si mesma, seria nada. Consequentemente, toda doutrina negativista é falta.
- A unidade é o carácter de ser um. Todo ser é unidade.
- Toda realidade possui o ser da mesma maneira que possui a unidade.
- A unidade relativa deve ser considerada sobretudo como estrutura.
- A unidade absoluta é absolutamente simples.
- A causa da unidade é necessariamente uma.
- Há necessariamente uma causa primária de todas as unidades.
Corolário
A causa uma primária e necessária é absolutamente necessária.
- A causa uma primária e absolutamente necessária é única.
- A estrutura ontológica do “eidos” do absoluto exige que se estabeleça a distinção entre absoluto simpliciter e absoluto secundum quid.
- A unicidade pode e deve ser considerada de modo absoluto e de modo relativo.
- Na essência lógica do ser, todos os entes se univocam e também se univocam na unicidade.
- A unicidade é incomunicável.
- O ser afirma-se por si mesmo.
- O ser, enquanto tal, não o podemos abstrair.
- O ser é verdadeiro.
Corolários
O ente não pode ser explicado pelo nada.
O conceito de nada inclui contradição, e exclui tanto o ser “extra-intellectum” como o no intelecto.
Ente é o que não inclui contradição.
Ente é o que, ao qual, não repugna ser.
Não há proporção (proportio) entre ser e nada.
O Ser Supremo é intensistamente ser, porque é todo em si mesmo. E é extensistamente ser, porque só há o ser e não o nada absoluto.
- Num vazio absoluto os átomos não poderiam mover-se.
- É anterior o que de certo modo se dá antes de outro, que lhe é posterior.
- O dependente, para ser, depende de um anterior.
- A dependência implica anterioridade e posterioridade.
- A dependência implica abaliedade e subalternidade.
- A anterioridade e a posterioridade dão-se na ordem cronológica, na ordem espacial, na ordem lógica, na ordem da eminência, na ordem axiológica, na ordem ontológica e na ordem teológica.
- O que não é posterior ao anterior não é posterior ao posterior.
- O anterior ao anterior é anterior ao posterior.
- Causa é o nome que se dá à dependência real do posterior ao anterior.
- Quanto à natureza e à essência, o anterior é apto a existir sem o posterior. O inverso não se dá.
- Um ser não depende essencialmente de si mesmo.
- Um ser não pode ser mais do que ele mesmo.
- Um ser não pode existir sem si mesmo.
- O ser dependente é necessariamente finito. O Ser infinito é absolutamente independente.
- O que pode existir por sua própria força existiu sempre, e não foi causada.
- Há um ser primeiro que em si tem a sua própria razão suficiente de ser.
- O ser finito não tem em si a sua razão suficiente de ser.
- O que não se ordena a um fim não é um efeito.
- Alguma natureza é causa eficiente.
- Todo facto supõe algo que o antecede.
- O que não é causado por causas extrínsecas não é causado por causas intrínsecas.
- Entre duas causas simultâneas, uma deve ter prioridade de certa espécie sobre a outra.
- Nem sempre o mais imediato efeito de uma causa do mais remoto efeito da mesma causa.
- Para que algo seja efetível (torne-se um efeito) é imprescindível um efetivo.
- Todos os seres que sucedem (em devir) são possíveis (possibilia) que se atualizam e exigem um anterior efetivo.
- Caracteriza o efetível a possibilidade de vir-a-ser (de devir).
- Algo é absolutamente o primeiro, e anterior a todos.
- Na ordem ontológica, o mais precede ao menos, mas o inverso se dá na ordem física.
- O que se coloca entre os extremos é mais próximo destes, do que os extremos entre, considerados no mesmo vector.
- Acidente é o que pode estar ou faltar em um sujeito sem corrompê-lo substancialmente.
- É impossível que um só e mesmo princípio específico de ação (faculdade) pertença a substâncias diversas.
- Há, contudo, um princípio de ação que é um só em todas as coisas.
- O Ser absoluto é “substancial” e “adverbialmente” infinito.
- O Ser absoluto (o primeiro eficiente) é incausável.
- Sendo o Ser absoluto indefectível e incausável, consequentemente não é finível, nem materiável, nem formável, nem, portanto, é composto de matéria e forma.
- O Ser absoluto é absolutamente livre.
- O Ser absoluto é “formalmente” infinito.
- O Ser absoluto, por ser absolutamente simples, é indecomponível.
- Um ser indecomponível é indestrutível.
- O Ser infinito perdura interminadamente, e é imutável. É, em suma, a imutabilidade absoluta.
- O Ser absoluto que é, foi e será, é a fonte e origem de todos os seres.
- O Ser infinito contém em si todas as perfeições e é, portanto, omniperfeito.
- O Ser infinito é omnipresente.
- O Ser infinito é omnipotente.
- O Ser infinito é a providência absoluta.
- O Ser finito não é absolutamente idêntico a si mesmo.
- O ser finito não pode atingir a uma perfeição absoluta nem na sua espécie.
- O que não é por si mesmo não pode ser por si mesmo.
- O ser incausável é um ser necessário por si mesmo.
- Convém distinguir o conceito de necessário de o de “necessitário”.
- O Ser Supremo tem a primazia na ordem da eficiência, na do fim e na da eminência.
- O Ser Supremo é atualíssimo e perfeitíssimo.
- Toda natureza dependente é triplicemente dependente.
- O que é intrínseco ao Ser Supremo o é no mais alto grau.
- É finito o ser contingente.
- Todo ser contingente preexiste de certo modo no Ser Supremo e nele perdura sempre.
- É impossível uma infinidade de causas essencialmente ordenadas. É impossível uma infinidade de causas acidentalmente ordenadas.
- O Ser Supremo não tem um fim fora de si.
- O Ser Supremo é existente em ato.
- Todas as coisas finitas atuam por um fim.
- A causa primeira, que é o Ser Supremo, move por si mesma.
- O Ser infinito é ato puro.
- A potência ativa do Ser infinito é infinita.
- O Ser infinito é “substância” infinitamente considerada.
- O Ser infinito não é corpóreo.
- Todas as perfeições estão, infinita e absolutamente, no Ser Supremo.
- O Ser infinito é eterno.
- O Ser Supremo tem todas as perfeições possíveis em ato.
- O Ser Supremo contém formalmente todas as perfeições absolutas, e contém as perfeições dos seres finitos não formalmente, mas intencionalmente, virtualmente e eminentemente.
- O Ser Supremo é apenas ser, e ser intensistamente máximo.
- O Ser Supremo é real, intrínseca, primordial e necessariamente o ser que é existente por essência.
- A essência física do Ser Supremo é a omnipotência.
- A essência metafísica do ser finito consiste em ser por dependência essencial radical e positiva.
- A criatura é multiplicável em muitos indivíduos sob qualquer que seja a espécie.
- Só há um ser que é por necessidade absoluta Todos os outros só podem ser por necessidade hipoteticamente absoluta (necessitários).
- O Ser Supremo é essencialmente único.
- Só o Ser Supremo é absolutamente subsistente.
- As formas não estão nem singular nem universalmente no Ser Supremo.
Corolários
A potência ativa infinita do Ser Supremo é a omnipotência.
O Ser Supremo pode fazer tudo quanto pode ser de modo dependente.
A ação transitiva, ou criativa, que é educativa do Ser Supremo, distingue-se dele, e distingue-se da criatura.
O que não contradiz o Ser é realmente possível. Ontologicamente, o que é realmente possível quanto ao Ser, é.
O que não é seu próprio ser, participa do ser de uma causa prima, que é seu próprio ser, que é o Ser Supremo.
Uma mesma coisa, que é uma, não pode ter dois seres substanciais.
Em todo ser dependente, a essência e a existência se distinguem.
- A operação exige a precedência do ser-em-ato.
- O operar segue-se ao ser (agere sequitur esse).
- O resultado da operação é proporcionado ao ser que opera e ao operado.
- O agente domina o agível proporcionado ao seu agir.
- A ação segue-se ao agente: a paixão, ao paciente.
- A atuação tem um termo, e dela resulta alguma coisa.
- A operação, no Ser infinito, processa-se proporcionalmente à sua “natureza”.
- Toda operação implica um em que opera. É um termo da operação. O nada não pode ser termo da operação.
- O Ser infinito atua e não sofre; o ser finito em ato atua e sofre simultaneamente.
- O ser finito sucede porque não é tudo quanto pode ser.
- Só é possível o que não contradiz o ser.
- É possível o ser que pode ser real.
- Os possíveis estão contidos no poder do Ser infinito.
- Sem o ser necessário não haveria possíveis.
- O possível só pode fundar-se no ser, e não no nada.
- O critério da possibilidade e da impossibilidade é dado pela causa, e pela razão intrínseca de ser.
- O ser finito tem a sua razão de ser no Ser absoluto ou infinito.
- O ser do ser finito é dado pelo Ser Supremo.
- O ser finito não pode depender do nada, e sim do Ser absoluto.
- A eternidade existe toda de uma vez: o tempo, não.
- O conceito de negação implica o de afirmação. Nega é ainda afirmar, como afirmar é ainda negar.
- A perfeição ou é relativa ou é absoluta.
- Uma magnitude não pode ser de modo algum infinita.
- Essência e qüididade devem ser distinguidas.
- Há para os seres finitos uma lei dos limites.
- Nenhum ser é mais do que é.
- O ato é a realidade de sua plenitude de ser.
- Todo ser é unidade e toda unidade revela ser.
- Só pode devir o que já é. O devir implica o ser.
- O devir dá-se no ser finito, e não no Ser infinito.
- O Ser infinito não tem partes, e não é, enquanto tal, uma totalidade.
- Toda operação, além de diádica, é triádica, e o seu resultado (o operado) alcança o decenário.
- O número quantitativamente considerado é sempre finito.
- O Ser infinito é transcendente ao conjunto dos seres finito (ao Universo).
- O Ser Supremo não é o Todo.
- O Todo é transcendente de certo modo às suas partes.
- Todo ser, que não é tudo quanto pode ser, é um ser imperfeito.
- Todo ser imperfeito tem uma dupla finalidade: intrínseca e extrínseca.
- A unidade absolutamente do Ser Supremo é a razão da unidade de ser dos entes finitos.
Corolários
Do Ato
O ato é o princípio do agente, princípio da ação e termo da paixão.
O ato só pode ser com o que é em ato.
Ato é exercício de ser.
O que é em ato antecede ontologicamente ao que é em potência.
O que está em ato naturalmente move.
A potência ativa não se opõe ao ato, mas funda-se neste.
O que é em ato ou é uma forma subsistente em si mesmo, ou em outro.
O ato do Ser Supremo é um ato puríssimo.
Sendo a operação proporcionada à forma, o ato desta é primeiro em relação ao ato da segunda.
Assim como é pelo ato que se distingue a potência, o ato se distingue dos outros pelos objetivos.
Os atos de diversas potências se distinguem pelo gênero.
A potência ativa não se distingue contra o ato, mas nele se funda.
Da Ação
A ação é ato do agente.
O ato do agente tende para algo determinado.
O ato do agente prossegue de um princípio que é algo determinado.
A ação e a paixão não são duas mutações, mas uma só (actio et passio sunt unus et idem motus).
A ação e a paixão diferem do sujeito apenas pela razão que são de espécies diversas.
O Ser Supremo atua em todo operante.
Nem toda a ação que se dá na criatura é criação. Contudo, toda ação da criatura é dependente do Ser Supremo, formal e efetivamente.
A ação pode ser transitiva e imanente. A imanente é a operação que se dá no operante; transitiva, a que transita para a coisa exterior separada do agente. A ação imanente é ato e perfeição do agente, não a transitiva, que é apenas do paciente. A ação, que produz transmutação da matéria, é ação física.
A ação transitiva implica necessariamente a paixão, não a imanente.
Toda ação da criatura difere realmente dela.
A ação é especificamente distinta do agente.
Os princípios da ação são: o agente, o fim a que tende e a forma que tem.
Nenhum agente atua desproporcionadamente à sua natureza.
Quanto mais potente é o agente mais pode difundir a sua ação.
Toda ação o é por alguma forma, que é princípio também da ação.
Mas a forma da ação não é a do agente, mas a do atuado, embora penda mais do agente que do paciente.
A ação não tem um ser em plenitude, por ser dependente do agente e, consequentemente, não pode anteceder a este. De modo algum é válido o juízo goetheano: “No princípio foi a ação. ”
Toda processão é relativa a alguma ação.
Nem toda ação do Ser Supremo é criação (quando se dá nas criaturas) [esta tese será provada mais adiante por outras vias].
A perfeição da ação é dada mais pelo fim a que tende do que pelo princípio (o terminus ad quem empresta maior perfeição que o terminus a quo).
Do Paciente e da Paixão
O sofrer determinações aponta a deficiência, que é real, na coisa, segunda o que é em potência.
Uma coisa sofre determinações na proporção das deficiências correspondentes à sua natureza.
Paciente é o ser deficiente que sofre a ação de um agente, e aquele é considerado tal em face deste.
- As coisas unem-se em totalidades substanciais (unum per se), não por suas diversidades, mas por suas afinidades a uma forma que, de certo modo, lhes é extrínseca.
- Só relativamente se pode afirmar a imutabilidade para as coisas dependentes.
- No ser finito, essência e existência se distinguem, como se distingue a sua forma da sua matéria.
- Um ente finito compõe-se, além do ser que é, do não-ser relativo que não é.
- O grau de realidade de “alguma coisa” é proporcionado à realidade da sua componência.
- O Ser é inteligível, e a inteligibilidade é a sua verdade.
- O modo distingue-se apenas modalmente do ser ao qual é inerente.
- Um ato é sempre atuante. A modal do atuado é a ação e esta é proporcionada à natureza daquele.
- A ação não é o ser, mas este, por ser perfeito, atua.
- Nenhuma entidade finita cósmica, e nenhuma entidade noético-abstracta (criada pelo homem) são subsistentes de per si e de per si suficientes, nem têm em si a sua última razão de ser.
- Os seres finitos dependem do Ser infinito e são eles produtos de um operar deste.
- O operar do Ser infinito, gerador dos seres finitos, é necessariamente ad extra (exteriorizador), e a operação que surge é o que se chama Criação.
- A criação não se dá ex-nihilo absoluto.
- O Ser infinito, como forma, como operar e como unidade absoluta, é sempre UM.
- O Ser infinito (Ser Supremo) tem consciência de si. O Ser infinito é pessoa.
- O que resulta do operar ad extra do Ser infinito é sempre menor que o operador.
- O ser finito, que é a criatura, não pode ser maior nem igual ao Ser infinito, e sim menor e em semelhança.
- O Ser infinito é causa de todos os efeitos, e estes não podem ser infinitos.
- A ação do Ser Supremo sobre todas as coisas não se dá nunca à distância em sentido absoluto.
- Não é a ação o fundamento da indistância do Ser Supremo e das coisas fora dele, mas a imensidade daquele é que é o fundamento.
- É ontologicamente falsa a mutabilidade absoluta.
- A imutabilidade do Ser Supremo é necessariamente absoluta infinitamente.
- Todas as coisas, sob algum aspecto, são imutáveis.
- A presença do Ser Supremo é absoluta.
- O ser finito é sempre diádico.
- Na criação, o escolhido é atualizado, e o preterido é virtualizado.
- O Ser Supremo como operar não é um mero participante do Ser Supremo como forma.
Corolários
A forma dá por si mesma o ser em ato a uma realidade, pois é ela por essência um ato. Ela não dá o ser por intermediário.
A última diferença específica é a mais perfeita no ente, porque é a mais determinada.
A última diferença específica é a mais perfeita no ser (ente), pois é ela que acaba a essência da espécie.
Só é subsistente, e de per si, o ser que não é nem acidente, nem forma material, nem seu ser parte de um ser. Assim o é o Ser Supremo.
A natureza de uma realidade é revelada pela sua operação.
Nenhum ser pode engendrar a si mesmo.
Um ser age na proporção que está em ato, e, segundo o que está em ato, age. É pela forma que um ser age.
Os seres, cujas atividades próprias são diferentes, pertencem a espécies diferentes.
A diversidade na espécie é sempre acompanhada de uma diferença na essência.
Há uma mesma relação entre as causas universais e seu efeito universal, que entre as causas particulares e seu efeito particular.
- O Ser dependente participa do infinito e da eternidade.
- O nada-relativo, quando contraditório, é absurdo.
- Há uma atualidade inversa à da determinação.
- À infinitude potencial ativa do Ser infinito corresponde uma infinitude potencial passiva.
Corolários – Da Criação
A criação está subjetivamente na criatura, como, porém, é causada pelo Ser Supremo, é anterior àquela.
A criação não é uma mera mutação, mas a emanação universal do ser, partindo do nada subjetivo do ser criado.
A criação simples não pode ser operada por seres criados.
A criação é a produção da coisa, segundo toda a sua substância, sem ser dela pressuposto nada anteriormente, sem qualquer matéria prejacente, da qual algo seja feito.
Nenhum corpo pode criar.
Só o Ser Supremo pode criar, por ser simplicíssimo.
Criar exige uma potência ativa infinita e uma infinita potência passiva.
Todo ser (ontos) fora do Ser Supremo é criatura.
Criar é o produto da primeira ação ad extra do Ser Supremo.
Toda criatura é mutável.
- À realidade atual corresponde uma atualidade inversa.
- Determinar implica a determinação, e esta a determinabilidade do determinado. À infinita potência ativa corresponde uma infinita potência passiva.
- Todo atuar do agente realiza uma ação, e esta é sempre seletiva.
- A potência passiva infinita não é o Ser Supremo, mas provém do seu operar ad extra.
- Ato e potência (enérgeia e dynamis) são diferenças últimas do ser finito.
- As diferenças últimas são de criação imediata do Ser infinito, e por elas começa a criação.
- A privação é componente do ser finito.
Corolários
Um ser finito, como causa, é uma causa finita e deficiente.
Só o ser simplicíssimo é uma causa infinita.
A criação simples exige um ser infinito, portanto, simplicíssimo.
Tudo quanto não é contraditório em si, ou seja, que não é intrinsecamente nada, é possível. Todo possível é do Ser Supremo. Todo possível pode tornar-se termo de criação, pois, do contrário, afirmar-se-ia a sua absoluta inviabilidade. Ora, tal inviabilidade seria extrínseca ao Ser Supremo e, por isso, uma limitação à sua omnipotência, o que seria contraditório. Impossível, de modo absoluto, só se pode predicar do que é fundamentalmente contrário. O que é fundamentalmente contrário é absolutamente nada.
O ser finito caracteriza-se pela ausência das perfeições possíveis, não só do seu gênero, como de sua espécie e de sua espécie especialíssima. Nunca é tudo quanto poderia ser. Por essa razão, nunca se unívoca simplesmente com o Ser Supremo, mas apenas se análoga com ele.
- À infinita potência ativa do Ser Supremo corresponde uma infinita potência passiva.
- O Meon não é ser, é não-ser e, como tal, potencialmente infinito.
- O Menos não é um infinito de não ser que cerque a infinitude do Ser Supremo.
- O Meon é outro do Ser Supremo e não outro ao Ser Supremo.
- O Menos é infinitamente potencial
- Ao Haver Supremo corresponde o Não-Haver.
Corolários
O Meon não tem essência nem existência.
O Meon não tem forma.
O Meon não se opõe ao Ser.
O Meon é outro que ser; é não-ser.
- A Criação exige necessariamente o Meon.
- A omnipotência do Ser Supremo também afirma o Meon.
- O Meon não é nenhum grau de ser.
- Os possíveis implicam o Meon.
Corolários
A potência ativa do Ser Supremo é inexaurível, como é inexaurível a potência infinita passiva do Meon.
O preterido na criação constitui o epimeteico criador, como o criável é constituído pelo prometeico criador.
Os possíveis criaturais são dependentes das razões ontológicas do Ser Supremo, e a sua natureza não consiste em outro ser que este.
Os possíveis não implicam composição no Ser Supremo, e não contrariam a tese da sua infinita simplicidade.
- Há, no limite, uma limitação.
- O conceito de limite é inseparável do de ilimitado.
- O limite do ser finito caracteriza-se pela positividade.
- O ser finito não é tudo quanto pode ser.
- O ser é eficácia, e o ato é o ser em sua eficiência, no seu pleno exercício de ser.
- O mais perfeito tem de preceder ao menos perfeito.
- Sob certos aspectos, preexistir pode ser mais perfeito que existir. Impõe-se a distinção entre perfeição ontológica e perfeição ôntica.
- O ser finito nunca é absolutamente idêntico a si mesmo.
- O ser finito não poderia receber totalmente o Ser infinito.
- Há proporcionalidade entre causa e efeito.
- Um ser é o que é em sua forma.
- O Ser infinito é causa eficiente primeira de todos os entes finitos.
- A ideia do ser é a mais abstrata e a mais concreta de todas as ideias.
- Em serem, todas as coisas se univocam.
- Todo ente contingente é causado.
- O que se move é por outro movido.
- Um corpo móvel, considerado abstratamente em si mesmo, sem as coordenadas da ubiquação, seria imóvel????.
- O devir não é o Ser, mas é produzido por este.
- O absurdo deve ser entendido como absoluto e como relativo.
- O universo como totalidade implica necessariamente um ser necessário.
- A realidade implica em poder de tornar real o possível.
- O ser finito é um composto de ato (enérgeia), potência (dynamis) e privação. Esta última é também positiva.
- A ordem dos possíveis é potencialmente infinita.
- O ser ficcional tem de certo modo uma positividade.
- A inexistência deve ser considerada como relativa e como absoluta.
- A criação dá-se com a temporalidade.
- A temporalidade não contradiz a eternidade. A contrariedade entre ambas é harmônica.
- O não poder criar um ser infinito e omnipotente é uma falsa atribuição ao Ser Supremo.
- A aparência tem certa positividade.
- A deficiência tem um conteúdo ontológico.
- Todo ser finito tem um arithmós (número).
- Ontologicamente, o que é realmente possível quanto ao ser, é.
- Tudo o que acontece tem uma razão de ser.
- A possibilidade de um ser decorre da sua essência.
- O ser finito, que é, não foi um puro nada antes de ser, nem será um puro nada depois de ser.
- O Ser Supremo pode realizar toda hierarquia de ser.
- Todo ser finito está necessitariamente conexionado a um antecedente; contingente a um consequente finito, e necessariamente sempre ao Ser infinito.
- As coisas podem “eludir” a ordem das causas particulares não a da universal.
- Todo ser é um bem.
- Todo ser finito apetece a um bem.
- Todo ente finito tem uma emergência e sofre a ação da predisponência.
- No Ser absoluto, tudo quanto é possível é já simultânea e atualmente do seu poder.
- A simultaneidade e a sua sucessividade nos seres finitos são relativas.
- A aptidão do ser finito aponta sempre a uma emergência.
- A privação não é uma negação simples (absoluta) do ser.
- Os esquemas abstracto-noéticos são em parte ficcionais e em parte reais.
- O mal é privação de bem, e é, na privação, que tem a sua positividade. A positividade do mal impede que haja um mal absoluto, pois este seria nada absoluto, o que é absurdo.
- O universal é a unidade no múltiplo.
- Sendo o Ser infinito o supremo bem não destruiria a si mesmo.
- Os seres finitos interatuam-se, e ás suas ações sobre correspondem reações proporcionadas a estes.
- O universo cósmico, enquanto totalidade, é uma unidade de simplicidade, sem ser absolutamente simples.
- Por ser o universo cósmico uma unidade de simplicidade, não se pode concluir desde logo que é uma unidade necessariamente constante.
- O devir dos entes em nada aumenta nem diminui o Ser, sustentáculo primeiro de todos os entes.
- As distinções entre os entes não indicam que sejam totalmente separados uns dos outros.
- As oposições não contradizem a ordem do ser.
- Todo ser finito é contingente e necessário de certo modo.
- O infinito potencial fundamenta-se no infinito ativo qualitativo.
- É impossível um infinito corpóreo.
- A matéria física caracteriza-se pela dimensionalidade específica.
- A matéria é um ser finito e finitizável.
- O que é dimensional é quantitativamente numerável potencialmente “in infinitum”.
- A matéria física, contudo, revela certa infinitude.
- A forma não tem a dimensionalidade da matéria física.
- Materialidade e corporeidade devem ser distinguidas.
- Potência é aptidão para receber determinações; materialidade, aptidão para receber formas.
- Os efeitos estão na potência ativa da causa, mas esta encontra seus limites na matéria.
- Forma in re é limitada pela matéria, mas formalmente considerada é ela que limita a matéria.
- A criação ab-aeterno não implica contradição ontológica.
Corolários
O ser em ato da matéria vem-lhe da forma substancial.
Um ser é passivo na proporção da sua matéria, e ativo na proporção da sua forma.
A matéria está em potência para receber todos os atos finitos, segundo uma certa progressão. O primeiro entre tais atos deve ser encontrado primeiramente na matéria, e o primeiro ato é ser finito.
O princípio do sendo (ente) é a forma.
A matéria recebe o ser atual (finito cronotópico) porque recebe a forma.
Há matéria onde se encontram as suas propriedades.
A potência é proporcionada ao ato.
As dimensões são acidentes que pertencem à forma corporal, a qual convém a toda a matéria já informada.
Só o princípio ativo é que dá à matéria o ser em ato, e é causa da unidade.
A forma finita cronotópica é determinada pela natureza da matéria, do contrário não haveria proporção entre ela e a forma.
É a forma o princípio de distinção para a matéria, considerada esta em sua simplicidade, pois diversas matérias são diversas em relação a formas diversas.
Se a matéria fosse o princípio da distinção, uma não se distinguiria de outra senão através das divisões da quantidade.
A forma dá o ser das coisas finitas, sem ser o ser dessas coisas.
A forma determinada as condições da matéria à qual está unidade naturalmente.
A matéria está ordenada à forma.
O gênero é determinado segundo a matéria, e a diferença específica o é segundo a forma.
Toda potência receptriz, que é ato de um corpo, recebe a forma sob um modo material e individual, pois a forma é recebida segundo o modo de ser do que a recebe.
Corpo é o tridimensional tópico e sucessivo no tempo.
Nenhum corpo pode ser infinito em ato. Um corpo infinito não poderia ser movido.
Todo corpo é um móvel, e está sujeito à alteração.
O limite dos corpos são as superfícies.
Todo corpo está em potência.
- Há uma duração incriada e uma duração criada. Esta é ora permanente, ora sucessiva.
- À proporção que a forma é de um grau mais elevado, mais ela domina sobre a matéria corpórea, menos é imersa nela, e mais a ultrapassa por sua atividade e por sua potência.
- A alma humana não é físico-material.
- O entendimento humano não percebe as coisas segundo o modo de ser delas, mas segundo o modo de ser dele.
- O intelecto humano é sempre ativo-passivo em sua funcionalidade.
- Nas tensões, há o surgir de algo novo que não contradiz a ordem ontológica.
- Se o Ser infinito fosse apenas o Todo, assim mesmo em algo o transcenderia.
- O poder unitivo do ser é absoluto.
- Necessariamente, há uma substância separada, de per si subsistente.
- Há, necessariamente, substâncias separadas.
- As tensões esquemáticas, tomadas separadamente e em crise, incluem-se conjuntos esquemáticos.
- O fundamento do universo não pode ser a qualidade.
- O fundamento do universo não pode ser a quantidade.
- O Ser infinito não é substância.
- A substância não pode ser o fundamento último do universo.
- Os valores podem ser relativos ou absolutos, mas os desvalores só podem ser relativos, nunca absolutos.
- As perfeições, enquanto estruturas ontológicas, não são individuais.
- O universo não será aniquilado.
- O universo não pode ser obra do acaso.
- O nihilismo e a acosmia moderna são apenas ficcionais.
- Algo tinha de ser e não o nada. Resposta à pergunta heideggeriana: Por que antes o ser do que o nada?
- O conhecimento por um ser finito é consequentemente finito.
- Há seres imateriais e seres espirituais finitos.
- A Filosofia só é sólida quando concreta.
- Sistema é uma multiplicidade de conhecimentos conexionados e subordinados à normal de uma totalidade.
- Há um sistema da razão e um sistema da natureza.
- A Ciência busca o “como” e o como do “porquê” próximo das coisas, mas a Filosofia é um afanar-se pelo “porquê” do “como” e pelos últimos “porquês” dos “porquês”.
- Se a Filosofia tem vários métodos para alcançar a sua meta, uns são indubitavelmente mais hábeis que outros, e um há de haver que será o mais hábil para ser usado pelo homem.
- Filosofar é ação.